Protocolo clínico ABM #14: Consultório Amigo da Amamentação – Otimizando o Atendimento a Bebês e Crianças

A Academy Of Breastfeeding Medicine (ABM) é uma organização mundial de médicos desempenha um papel vital na educação, pesquisa e defesa da amamentação. Dedicada a educar e capacitar profissionais de saúde para apoiar e gerir a amamentação, a lactação e a alimentação com leite humano, tem como um dos objetivos principais desenvolver protocolos orientados para a prática clínica.

Com este artigo convidamos os profissionais da ULS Braga, cuja prática está direcionada para a amamentação, a conhecerem este protocolo e as suas recomendações.

Os cuidados de saúde primários foram identificados como um espaço no qual uma intervenção cuidadosa demonstrou influenciar positivamente as taxas de amamentação e aleitamento materno exclusivo.

Este protocolo (atualizado em 2021) pretende oferecer recomendações para os Cantinhos de Amamentação, centrando-se na criação de ambientes de atendimento que apoiem e promovam a amamentação, garantindo que mães e bebés recebem o suporte adequado para alcançar seus objetivos de amamentação. Pretende-se com isto atingir a meta prevista pela OMS para 2025, que se define por aumentar o aleitamento materno exclusivo para 50% aos 6 meses de vida.

O artigo aborda uma variedade de tópicos, desde a estruturação do consultório até a abordagem do profissional de saúde durante as consultas. No entanto, vamos adaptar essas diretrizes à nossa realidade, considerando as necessidades específicas da nossa comunidade e os recursos disponíveis, garantindo assim uma implementação eficaz e adequada às nossas circunstâncias.

Recomendações 1 e 2: À semelhança do que é preconizado pela UNICEF (2016) para que uma unidade de saúde ou hospital seja considerado “Amigo dos Bebés”, este protocolo recomenda que seja desenvolvida, compartilhada e afixada, uma política escrita para garantir um ambiente favorável à amamentação. Colaborar com colegas e funcionários durante o processo e informar novos funcionários sobre essa política, bem como considerar utilizar recursos como o curso Baby Friendly Hospital Initiative Training Course for Maternity Staff da OMS/UNICEF para envolver e educar todos os profissionais das unidades, tais como enfermeiros, assistentes técnicos, entre outros.

Recomendação 3: Apesar do Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno da OMS existir desde 1981, muitos profissionais de saúde ainda não estão familiarizados com as suas orientações. Portanto, é crucial que a literatura promocional de alimentação artificial, incluindo fórmulas para bebés e crianças pequenas, seja mantida fora da vista de utentes e familiares. Como profissionais de saúde, devemos recusar incentivos que possam ser interpretados como promoção de fórmulas infantis. Além disso, é essencial fornecer informações factuais e baseadas em evidências sobre a importância da amamentação e os riscos da alimentação artificial a todas as mães, durante consultas pré-natais e em qualquer outra consulta em que uma mãe que amamenta solicite suplementação.

Recomendações 4, 5 e 6: Os profissionais de saúde devem estar familiarizados com as leis locais e nacionais relacionadas à amamentação para oferecer um suporte eficaz às lactantes, Incluindo o conhecimento das leis que protegem contra discriminação durante a amamentação em espaços públicos e privados.

Estas recomendações vão de encontro ao que foi o Slogan da celebrarão da Semana Mundial do Aleitamento Materno em 2023: “Apoie a Amamentação: Faça a diferença para mães e pais que trabalham”, em que o objetivo era informar as pessoas, consolidar as licenças pagas e o apoio no local de trabalho como ferramentas importantes para permitir o aleitamento materno e envolver indivíduos e organizações. No fundo devemos empoderar as famílias para terem o conhecimento sobre os seus direitos nesta área.

O tema relativo a 2024 também já foi divulgado na página da World Alliance for Breastfeeding Action (WABA) em que o slogan é “Closing the Gap: Breastfeeding Support for All”.

Normalizar a amamentação por meio de estratégias subtis, como exibição de pósteres e vídeos nas áreas de espera que representam a amamentação de forma culturalmente inclusiva e diversificada. Essas estratégias visam aumentar a aceitação e promoção da amamentação na comunidade.

Recomendação 7: Durante o cuidado pré-natal, é crucial abordar o tema da alimentação infantil desde o primeiro trimestre e continuar a expressar apoio à amamentação ao longo da gestação. Identificar mulheres com fatores de risco para a lactação e oferecer cuidado individualizado, incluindo encaminhamento a especialistas em lactação, é fundamental para garantir o sucesso da amamentação. Durante o atendimento é fundamental formular perguntas abertas sobre a amamentação e focar nas preocupações dos pais, oferecendo tempo para esclarecimentos. Além disso, encorajar a presença de ambos os pais em consultas pré-natais e em cursos de amamentação pré-natal pode fortalecer a conexão familiar, enquanto a educação direta sobre a importância do contato pele-a-pele entre o pai e o bebê pode promover uma associação positiva com a interação paterna. Relativamente à realidade das UCC onde exercemos funções os horários dos cursos de preparação para o parto decorrem no horário entre as 8h as 20h e aos fins-de-semana, ainda com a possibilidade de apoio através da criação dos grupos de Whatsapp. Existe também articulação entre os profissionais de saúde das Unidade de Saúde Familiar (USF) e os Cantinhos da Amamentação das UCC para situações que requerem uma avaliação especializada, por parte de profissionais com formação específica na área de apoio à lactação e à amamentação.

Recomendações 8, 9 e 10: Na nossa realidade, a articulação entre a maternidade de referência e os cuidados de saúde primários é escassa, o que muitas vezes resulta em lacunas no acompanhamento pós-parto e na continuidade dos cuidados de saúde materno-infantil. Essa falta de comunicação e coordenação pode criar barreiras significativas para as mães e bebés, dificultando o acesso a informações essenciais sobre amamentação, cuidados pós-parto e suporte emocional. Para promover melhores resultados de saúde para mães e bebês, é crucial desconstruir essas barreiras e fortalecer a colaboração entre os serviços de maternidade e os cuidados de saúde primários, garantindo uma transição suave e apoio contínuo ao longo do período perinatal.

Recomendação 13: Segundo o registo do observatório do aleitamento materno em Portugal da DGS (2013) a percentagem de recém-nascidos com aleitamento materno exclusivo até à alta da maternidade era de 76,7%, verificando-se uma posterior diminuição para 68% às 5-6 semanas de vida e de apenas 52.8% ao terceiro mês de vida. Desde 2014, não existem dados a nível nacional disponíveis, o que representa uma lacuna significativa na compreensão da situação atual da amamentação no país. Diante disso, é crucial reatar o registo a nível nacional e local, a fim de monitorizar e avaliar os índices de amamentação e identificar áreas que necessitam de intervenção e suporte adicionais.

Numa conclusão abrangente, é evidente que a promoção e apoio à amamentação requerem uma abordagem multifacetada, que vai desde a implementação de políticas em ambientes clínicos até a educação contínua tanto para profissionais de saúde quanto para as famílias. Ao adotar protocolos como o #14 da ABM e ao seguir diretrizes internacionais, podemos estabelecer consultórios e maternidades verdadeiramente amigos da amamentação, onde as famílias recebem o apoio necessário para iniciar e manter a amamentação com sucesso.

No entanto, enfrentamos desafios significativos, incluindo a falta de coordenação entre serviços de saúde, a escassez de educação em amamentação para profissionais de saúde e a persistência de barreiras culturais e sociais. Para superar esses obstáculos, é crucial fortalecer a colaboração entre os diferentes níveis de cuidados de saúde, garantir uma educação abrangente em amamentação e combater estereótipos e mitos relacionados à amamentação na sociedade. Somente com esforços unidos e uma abordagem holística, podemos verdadeiramente promover a saúde materno-infantil e fornecer o apoio necessário para que todas as mães e bebês alcancem os benefícios da amamentação.