VIH e a importância do teste rápido para diagnóstico precoce da Infeção

A SIDA é a síndrome de imunodeficiência adquirida que consiste num conjunto de sinais e sintomas causados pela deficiência do sistema imunitário, responsável pela proteção de doenças, que pode surgir após infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH). Existem 2 tipos de VIH, o VIH 1 e o VIH2. O VIH 1 é o mais frequente em todo o mundo.

Estar infetado com VIH significa que se é seropositivo, não é o mesmo que ter SIDA. Os seropositivos podem ou não desenvolver SIDA.

A transmissão do VIH pode ocorrer através de relações sexuais desprotegidas (sem utilização do preservativo) com pessoas infetadas, através de partilha de agulhas ou outro material injetável e através da transmissão de mãe para filho (gestação, parto ou leite materno).

A pessoa que está seropositiva inicialmente não tem sintomas. Quando a infeção se desenvolve os sintomas podem ser idênticos aos da gripe tais como febre, dores de cabeça, cansaço, gânglios inflamados no pescoço e virilhas. Com o evoluir da doença os sintomas vão-se tornando mais graves podendo surgir perda rápida de peso, infeções graves, pneumonia, diarreia prolongada, lesões na boca, ânus ou genitais, perda de memória, depressão e outros distúrbios neurológicos.

O primeiro caso de infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana em Portugal foi identificado no ano de 1983.

Segundo o relatório da Infeção por VIH em Portugal de 2023, elaborado pela DGS em colaboração com o Instituto Dr. Ricardo Jorge, o controlo da doença tem tido uma evolução muito positiva graças aos grandes progressos a nível do conhecimento da infeção, na prevenção, diagnóstico e tratamento do VIH, bem como, ás estratégias definidas e medidas tomadas, pela Direção Geral de Saúde, na luta contra a doença.

De acordo com a mesma fonte, ao longo das quatro décadas da epidemia VIH (1983-2022), foram notificados em Portugal 66061 casos positivos de VIH dos quais 23637 atingiram o estádio SIDA e ocorreram 15779 óbitos em pessoas que viviam com infeção por HIV. Entre 2013 e 2022 verificou-se uma redução de 56% no número de novos casos de infeção por VIH e de 74% no número de casos novos de SIDA (sendo os números provisórios por atraso da notificação do total de casos em 2022).

No que diz respeito ao ano 2022, em Portugal, foram notificados 804 novos casos de infeção por VIH, em adolescentes e adultos na sua maioria do sexo masculino (75,5%) em idades a partir dos 15 anos, constituindo o sexo feminino uma percentagem de 24,5% o que equivale á relação de 3 casos de homens para 1 caso em mulheres. Relativamente ao número de novos diagnósticos de SIDA, em 2022, foram reportados 138 casos. O número de óbitos, no mesmo ano, em pessoas infetadas com VIH foi de 151.

Apesar da tendência decrescente, constatada a partir do ano 2000, a taxa de novos casos de infeção por VIH e SIDA, em Portugal, continua elevada, sendo aproximadamente o dobro, comparativamente aos valores médios registados no conjunto de Países da União Europeia.

Por outro lado, “À semelhança do observado em anos anteriores, mantem-se uma elevada percentagem de diagnósticos tardios, com particular expressão entre os homens heterossexuais e as pessoas com 50 ou mais anos, o que reforça a necessidade de incrementar o desenvolvimento de ações dirigidas à prevenção da transmissão e promoção do diagnóstico precoce dirigidas a essas populações específicas. Os HSH (homens que tem sexo com homens) jovens e os migrantes de ambos os sexos devem também poder beneficiar de ações dirigidas, com especial foco na prevenção e no rastreio.”

De entre as estratégias definidas e medidas tomadas para a luta contra a doença pode-se contar com a disponibilidade de autotestes de VIH nas farmácias comunitárias e a implementação do teste rápido do VIH nos Centros de Saúde, medidas que vieram reforçar o acesso aos testes, numa tentativa de reduzir os casos de diagnósticos tardios da infeção por VIH.

Rastreio do VIH através do Teste rápido

Nos Centros de Saúde faz-se então, atualmente, o teste rápido do VIH para rastreio, entre os 18 e os 64 anos de idade na consulta de Enfermagem, de forma oportunista. Por outro lado, se alguém pretender fazer o teste, pode fazer um agendamento para a sua enfermeira de família. A realização do teste não é obrigatória e necessita de consentimento verbal do utente. Toda a informação partilhada com o utente assim como o resultado do teste são confidenciais.

Trata-se de um teste de deteção rápida de anticorpos do Vírus da Imunodeficiência Humana, através de algumas gotas de sangue, obtidas a partir da picada num dedo. O resultado do teste pode ser avaliado entre 20 a 40 minutos.

Se o resultado do teste rápido VIH for positivo

Ter um resultado reativo (positivo) significa que foram encontrados anticorpos anti-VIH1 e anti-VIH2 e/ou o antigénio p24 (proteína do VIH). Este resultado pode significar que a pessoa está infetada.
Neste caso, será feita a referenciação para uma consulta para um hospital à escolha do utente onde será feito um teste de confirmação e, caso se confirme a infeção, iniciará o tratamento. No Centro de Saúde a referenciação é feita pelo médico de família.

O utente que apresente um teste rápido VIH com resultado positivo deve ser alvo de algumas orientações por parte dos profissionais de saúde, adaptadas á situação de cada um. O utente deve receber informação sobre:
• O resultado do teste;
• A necessidade de confirmação do resultado;
• Formas de prevenção da transmissão da infeção por VIH a outras pessoas;
• Tratamentos disponíveis e seus benefícios;
• Benefícios na partilha de resultados do teste entre o casal e/ou parceiros;
• Outros apoios disponíveis, de acordo com as necessidades do utente (contraceção, cuidados pré-natais, infeções sexualmente transmissíveis, programas de redução de riscos e minimização de danos para pessoas que utilizam drogas, diagnóstico e tratamento de tuberculose, entre outros)

Se o resultado do teste for negativo

Se o resultado for não reativo (negativo) significa que não está infetado. Contudo, se tiver tido um comportamento de risco recente e o teste ter sido realizado dentro do período de janela imunológica, poderá ser necessário repetir o teste, passadas algumas semanas.

Janela imunológica é o termo que define o tempo que decorre entre a infeção e o aparecimento de anticorpos ao VIH detetáveis.

De um modo geral, desde o momento da infeção, o corpo demora cerca de 3 meses a produzir anticorpos suficientes para serem detetados por um teste aos anticorpos do VIH.

Após um resultado negativo o utente deve:
• perceber o seu significado;
• receber informações sobre formas de prevenção de transmissão da infeção;
• ser informado sobre a necessidade de repetição do teste, no caso de exposição recente e / ou risco continuado de exposição

O diagnóstico e o tratamento precoces permitem uma esperança e qualidade de vida semelhante a uma pessoa não infetada e previnem a propagação da infeção.

Ainda não existe nenhuma vacina para prevenir o VIH.

Em caso de VIH positivo a pessoa é acompanhada em consultas hospitalares como já referido.

Ainda não existe cura para a doença e o tratamento baseia-se na toma diária de medicamentos (medicamentos antirretrovirais) para toda a vida. Estes medicamentos permitem controlar a multiplicação do vírus e recuperar o sistema imunitário das pessoas infetadas. Em Portugal o tratamento é gratuito em consultas Hospitalares de Especialidade.

O estigma e a discriminação das pessoas que vivem com VIH, apesar das melhorias verificadas nos últimos anos, ainda é grande em Portugal, persistindo em meio familiar, contexto laboral e nos serviços de saúde. Podem constituir importantes barreiras ao acesso á prevenção, tratamento e serviços de apoio.

O Dia Mundial do Combate à SIDA é assinalado anualmente a 1 de dezembro. O seu objetivo é sensibilizar para a problemática do VIH/SIDA.

Referências bibliográficas

Direção-Geral da Saúde / Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Infeção VIH e SIDA em Portugal – 2023. Lisboa: DGS/INSA

Circular Normativa Conjunta DGS/ACSS/INFARMED/INSA/SPMS de 24/08/2018

https://sns24.gov.pt/servico/testes-rapidos-de-rastreio-de-infecoes-por-vih-vhb-e-vhc/- Manual de Operacionalização

https://sns24.gov.pt/tema/doencas-infecciosas/vih/ (26.01.2024)

https://sns24.gov.pt/tema/doencas-infecciosas/vih/tratamento-da-infecao-por-vih/(14.02.2024)

 

 

 

 

 

 

 

 

Enfermeira USF Vida +, Centro de Saúde de Vila Verde, ULS Braga