A utilização da internet como fonte de obtenção de informação e conhecimento em saúde, traz consigo o desafio aos profissionais de saúde no que respeita às estratégias de transmissão da informação. Concordamos com Carvalho (2021) na medida em que refere que “Com o desenvolvimento tecnológico, a comunicação através da Internet é atualmente notória, quer seja no âmbito da comunicação pessoal, na comercial ou, até mesmo, para a disseminação de investigação científica.” (p. 7). Uma vez que o avanço tecnológico e a evolução das ferramentas digitais fazem emergir novos meios de comunicação, no que diz respeito à comunicação digital esta assume um papel preponderante para qualquer tipo de divulgação.
A infodemia pode ser definida pela quantidade emergente de notícias relacionadas com determinado tema que, num curto espaço de tempo, pode crescer exponencialmente, e, desde logo, constituir um desafio ainda maior à fiabilidade dos conteúdos. A infodemia pode afetar a tomada de decisão através da desinformação e da não dedicação de tempo suficiente para confirmar uma determinada fonte ou até mesmo o conteúdo, podendo induzir em erro e levar ao equívoco. Este termo tornou-se mais visível durante a pandemia COVID-19 e segundo a OMS deve ser entendido como “um excesso de informações, algumas precisas e outras não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa.” (OPAS, 2020, apud OMS, s.d.)
Em contrapartida, a informoterapia deve ser percebida como a prescrição oportuna de informação em saúde, baseada na evidência, de acordo com as necessidades específicas das pessoas, de forma a ajudá-las na tomada de decisão em saúde. Silva (2014) na dissertação de Mestrado em Ciências de Enfermagem intitulada Literacia Tecnológica e Necessidades Informacionais da Pessoa com Hipertensão Arterial: Potencial de Utilização das TIC, apoiada em Kemper & Mettler (2006), remete-nos para os princípios fundamentais da informoterapia como sendo “a informação certa, na hora certa, à pessoa certa” (Silva, 2014, apud Kemper & Mettler, 2006, p. 28). A informoterapia é referida nos padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem de saúde materna e obstetrícia, da Ordem dos Enfermeiros, onde é sugerido o recurso à informoterapia como um “modelo de cuidados que garanta o uso dos princípios da informoterapia (…) com vista a promover os processos de adaptação da(o) cliente.” (Ordem dos Enfermeiros, 2021, p. 12)
Assim, ambos os termos se centram na informação. Contudo, a sua essência pode ser bem distinta, na medida em que a infodemia pode representar um problema derivado da não-veracidade da informação e a informoterapia é a estratégia para veicular a informação correta, baseada na evidência científica.
Portanto, no seu desempenho profissional e na procura incessante da excelência do exercício profissional, o enfermeiro, e mais concretamente, o enfermeiro especialista de Saúde Materna e Obstetrícia, tem o dever ético e profissional de zelar pelo melhor interesse do ou da cliente. Desta forma, o recurso à informoterapia, como prescrição oportuna e como ferramenta de gestão de doença, bem como o combate à infodemia, deverão ser uma preocupação constante no desenvolvimento dos cuidados especializados de enfermagem em prol da qualidade dos cuidados prestados.
Referências
Carvalho, C. (2021). A Tradução e a criação de conteúdos multimodais para a comunicação de ciência. Obtido de https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/74329/1/Relatorio_Est%C3%A1gio_CarolinaCarvalho_MTCM_Versao_Final.pdf
OPAS. (2020). Entenda a Infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19. Obtido de https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52054/Factsheet-Infodemic_por.pdf
Ordem dos Enfermeiros – ASSEMBLEIA DO COLÉGIO DA ESPECIALIDADE DE ENFERMAGEM DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICA. (28 de Maio de 2021). PADRÕES DE QUALIDADE DOS CUIDADOS ESPECIALIZADOS EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MATERNA E OBSTÉTRICA. Lisboa. Obtido de https://www.ordemenfermeiros.pt/media/23179/ponto-3_padr%C3%B5es-qualidade-dos-cuidados-eesmo.pdf
Silva, S. (2014). Literacia tecnológica e necessidades informacionais da pessoa com hipertensão arterial: potencial de utilização das TIC. Obtido de https://hdl.handle.net/10216/75715
Enfermeira Especialista de Saúde Materna e Obstetrícia
UCC Amares