A morte por suicídio é devastadora e tem um impacto marcante em todas aqueles(as) que rodeiam a pessoa suicida (família, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, conhecidos…).
Em determinadas culturas, o suicídio é visto como: vergonhoso, pecado, sinal de fraqueza, ato egoísta, forma de manipulação ou até como um ato de honra. Estes clichés e preconceitos negativos, disseminados na sociedade, promovem o silêncio e dificultam o pedido de ajuda por parte que quem precisa (Valadas, M. T., 2021).
Alguns factos sobre os comportamentos suicidários: por cada 100 mortes, em todo o mundo, uma foi resultante de suicídio (ano de 2019); mais de 700.000 pessoas se suicidam anualmente; uma tentativa de suicídio anterior, é o fator de risco mais forte para a morte por suicídio, na população geral; o suicídio é a 4ª causa de morte em jovens entre os 15-19 anos de idade; mais de metade de todas as mortes por suicídio ocorrem antes dos 50 anos de idade; a taxa global de suicídio é duas vezes maior entre homens e que entre mulheres; uma pessoa com Depressão tem 20 vezes mais possibilidades de morrer por suicídio; as taxas de suicídio são altas em grupos de pessoas mais vulneráveis, que estão sujeitos à descriminação (como refugiados, migrantes, prisioneiros, indígenas e pessoas da comunidade LGBTIQ; as taxas de suicídio são altas em zonas de desastres , de conflitos, onde existe violência, abuso ou quando há perdas significativas/luto e isolamento a ingestão de pesticidas, o enforcamento e as armas de fogo são os métodos mais utilizados em todo o mundo; (OMS, 2023; IASP, 2023).
A consciencialização da população, a diminuição do estigma em torno da doença mental (maioria das vezes associado ao ato suicida), dos comportamentos suicidários (1) e o encorajar à execução de ações, esclarecidas, concorrem para a diminuição do suicídio e das tentativas de suicídio, em todo o mundo!
No ano de 2003, a International Association Suicide Prevention (IASP), junto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estabeleceu o dia 10 de setembro como o “Dia Mundial de Prevenção do Suicídio”. Trata-se de um evento significativo, que transmite uma mensagem ímpar de que o suicídio pode ser evitado! Nesse dia realizam-se várias campanhas a nível nacional e internacional, cujo objetivo é consciencializar e reduzir o estigma associado à doença mental e ao ato suicidário (2). (IASP, 2023).
Sabe-se que o estigma associado aos comportamentos suicidários, à doença mental, é ainda, nos nossos dias, infelizmente, uma enorme barreira à procura de ajuda…a mudança de narrativa em torno do suicídio, através da promoção da esperança, poderia levar a sociedades mais preparadas para lidar com as questões do suicídio.
O slogan “Criando Esperança através da Ação”, vem lembrar que existe uma alternativa ao suicídio e visa inspirar confiança e luz em todos nós; as nossas ações, por mais pequenas que pensemos, que sejam, trazem esperança à pessoa que está nessa luta; como membro de uma sociedade, todos, podemos desempenhar um papel no apoio à pessoa com comportamentos suicidas, ou àquelas, que estão a viver o luto por alguém, que morreu por suicídio.
O suicídio, é um ato intencional para pôr termo à sua própria vida, que está associado, muitas vezes, à vontade de terminar com o sofrimento ou com a dor que a pessoa sente. Todos experienciamos sofrimento emocional em determinadas alturas da nossa vida, de diferentes formas e nem sempre exibimos sinais externos. Porém, em situações mais graves, a pessoa em risco de cometer o suicídio, apresenta alterações do seu comportamento habitual, sem a própria se aperceber. Estes sinais de alarme, são usualmente percetíveis e são o momento para oferecer a ajuda!
A presença destes sinais não implica que a pessoa pretende cometer o suicídio, a única forma de ter a certeza, é questionando a pessoa! Os fatores e as causas que levam uma pessoa ao suicídio, são múltiplos (eventos de vida negativos, doença mental como a Depressão, Ansiedade ou outras, uma doença física incapacitante, podem levar a uma maior vulnerabilidade ou serem os fatores contribuidores) e não existe uma abordagem exclusiva, que funcione para todos.
Segundo a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental (2023), frequentemente, a pessoa com pensamentos suicídios, apresenta sinais de alarme:
– Tem dificuldades de concentração;
– Refere não ter esperança no futuro;
– Anda mais isolada;
– Irrita-se com frequência ou tem variações de humor extremas;
– Tem constantes alterações do apetite;
– Dorme muito ou muito pouco;
– Consome bebidas alcoólicas ou drogas;
– Fala sobre querer morrer ou querer matar-se;
– Age de forma ansiosa, agitada ou imprudente, sem pensar nas consequências das suas ações;
– Diz que se sente um fardo para os outros ou que se sente culpada;
– Não vê solução para os problemas ou sente-se encurralada;
– Perdeu o interesse pela própria aparência física;
– Perdeu o interesse pelas atividades habituais (trabalho, escola, atividades sociais, desporto…);
-Tentativas anteriores de suicídio;
– Doou recentemente bens pessoais significativos;
– Sofreu uma perda marcante recente (morte de um ente querido, desemprego, perda económico ou de estatuto social);
– Organiza a vida e prepara o momento da morte (guardou dinheiro para o funeral ou escreveu um testamento).
A pessoa com comportamento suicidário, pode sentir-se presa ou sentir-se “um fardo” para os seus familiares e amigos, sentindo-se só e sem opções (3) (a pandemia por Covid-19 contribuiu para elevar a sensação de isolamento e vulnerabilidade). Podemos ajudar uma pessoa com pensamentos suicidas, OUVINDO-A, dizendo-lhe que nos importamos e queremos apoiá-la, criando esperança! Damos esperança à pessoa quando, demonstramos interesse, perguntamos se “está tudo bem?”, “posso ajudar?”, mostramos disponibilidade para a ouvir e permitir que fale sobre as suas experiências de angústia, sofrimento, dor psicológica e/ou pensamentos suicidas… uma simples conversa, sem julgar, pode salvar uma vida e cria uma sensação de conexão e esperança à pessoa que está a passar por complicações. Falar sobre estes pensamentos ou ideias, pode ser o primeiro passo para a procura de ajuda (OMS, 2021).
Prevenir o suicídio requer que nos tornemos um “farol” (uma luz que nos guia) para aqueles que sofrem.
TODOS TEMOS UMA PALAVRA A DIZER! HÁ HISTÓRIAS QUE VALEM A PENA PARTILHAR!
A partilha de histórias de pessoas que já passaram por uma situação complexa, como é o suicídio, é extremamente preponderante na ajuda ao outro … compreender os comportamentos suicidários, faz com que sejamos encorajados a estender a mão. O compartilhar de histórias vividas, neste âmbito (perceções sentidas, experiências vividas na tentativa de suicídio, a recuperação após tentativa, etc.), vai levar o outro/outra, a sentir-se compreendido/a no seu sofrimento emocional, nos seus pensamentos suicidas, sentindo mais esperança por um futuro melhor! Pode mostrar que é viável ultrapassar esse período de sofrimento ou crise, e os seus conselhos podem ajudar os outros a compreender o que significa ter pensamentos de suicídio e como se pode lidar com eles. (OMS, 2021)
Quando a pessoa tem ideação suicida, isto é visto como uma espécie de sentença que vai marcar essa pessoa para sempre…, mas a ideação suicida é tudo menos uma marca ou rótulo! É um sinal que nos permite saber o quão é o sofrimento da pessoa e da necessidade de procurar ajuda. Qualquer ideia pré-concebida à volta da temática do suicídio, contribuem apenas para aumentar a desinformação e naturalmente para a construção do estigma que rodeia o suicídio e as doenças mentais. (Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, 2023)
Falsas informações podem impedir que a pessoa em sofrimento procure a ajuda adequada, colocando-se em risco. Desmistificar, a doença mental, os comportamentos suicidas, é urgente, pois, uma sociedade informada, vai auxiliar na procura de ajuda, vai apoiar, vai encorajar para o tratamento e no enfrentar do problema. (Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, 2023)
Mitos mais comuns, envolto do suicídio:
I. MITO: “Se uma pessoa fala sobre suicidar-se, é pouco provável que o faça.”
FACTO: muitas pessoas que morreram por suicídio, tinham comunicado de forma implícita ou explícita, os seus sentimentos, pensamentos ou planos.
II. MITO: “O suicídio é sempre um ato impulsivo.”
FACTO: muitas pessoas tiveram ideação suicida e plano antes de cometer a morte por suicídio.
III. MITO: “O suicídio é uma resposta expectável ou natural ao stresse.”
IV. FACTO: o suicídio é uma resposta anormal ao stresse. Todos nós experienciamos stresse ao longo da nossa vida, mas nem todos iremos fazer uma tentativa de suicídio.
V. MITO: “O suicídio é causado pelo stresse.”
FACTO: as tentativas de suicídio podem suceder após um acontecimento que incite muito stresse, mas este acontecimento, geralmente é o gatilho para o comportamento e não a causa do suicídio.
VI. MITO: “Quem pensa em suicidar-se tem sempre a intenção de morrer e não aceita ajuda.”
FACTO: a intensidade dos pensamentos/ideação suicida é variável ao longo o período de crise. Muitas pessoas que fazem a tentativa ou que morrem por suicídio lutaram com estas ideias tão fortes.
VII. MITO: “As pessoas que morrem por suicídio são egoístas e fracas.”
FACTO: muitas pessoas que morrem por suicídio estavam doentes e esta pode não ter sido diagnosticada antes do ato suicida. Na maioria dos casos (9 em 10) tinham uma doença psiquiátrica.
VIII. MITO: “Alguém inteligente e bem-sucedido nunca tentaria o suicídio.”
FACTO: os pensamentos suicidas são muitas vezes mantidos em segredo. O suicídio não tem limites demográficas, étnicos, culturais, de género, nível educacional ou socioeconómicos.
IX. MITO: “falar sobre o suicídio com alguém deprimido vai levá-lo a tentar o suicídio.”
FACTO: muitas pessoas deprimidas não têm pensamentos/ideação suicidas ou planos de suicídio e sentem-se aliviadas quando lhes é oferecida ajuda. Falar sobre o suicídio com uma pessoa deprimida não a vai encorajar ao suicídio.
X. MITO: “Não há nada a fazer para evitar o suicídio.”
FACTO: muitas pessoas que tentam o suicídio sofrem de uma doença psiquiátrica que responde a um tratamento. Quando este tratamento é adequado, a doença vai estar controlada e isso reduz significativamente o risco de suicídio.
XI. MITO: “Alguém que tenta ou fala sobre suicidar-se só quer chamar a atenção.”
FACTO: em alguns casos, a tentativa de suicídio é a razão para o pedido de ajuda. Um pedido de ajuda desesperado não é o mesmo que uma chamada de atenção.
XII. MITO: “O risco de suicídio diminui após uma tentativa de suicídio.”
FACTO: as tentativas de suicídio prévio são o mais importante fator de risco para a morte por suicídio.
Todos juntos, vamos quebrar a barreira do estigma e assim, aumentar os pedidos de ajuda!
RECURSOS/LINHAS DE APOIO:
SOS VOZ AMIGA
Horário:
15:30 – 0:30
Contacto Telefónico:
213 544 545
912 802 669
963 524 660
Website: sosvozamiga.org
TELEFONE DA AMIZADE
Horário:
16:00 – 23:00
Contacto Telefónico:
222 080 707
CONVERSA AMIGA
Horário: 15:00 – 22:00
Contacto Telefónico:
808 237 327
210 027 159
VOZ DE APOIO
Horário:
21:00 – 24:00
Contacto Telefónico:
225 506 070
Email: sos@vozdeapoio.pt
VOZES AMIGAS DE ESPERANÇA DE PORTUGAL
Horário: 16:00 – 22:00
Contacto Telefónico: 222 030 707
O atendimento é da responsabilidade de cada uma das linhas4.
Contacte o Centro de Saúde mais próximo e peça ajuda!
Fale com seu Médico/Enfermeiro de Família/Psicólogo e/ou outros Profissionais de Saúde!
Linha SNS 24 – 808242424
Serviço de Aconselhamento Psicológica
Número Europeu de Emergência, ligue imediatamente 112
Se uma pessoa estiver em perigo de vida e siga as indicações!
Quadro1: Linhas de Apoio para pessoas em crise, com pensamentos/ideação suicida, adaptado da Coordenação Nacional das Políticas da Saúde Mental, 2023.
1 Comportamentos Autolesivos: sem propósito suicida, mas envolve atos autolesivos intencionais: cortar-se, saltar de um local relativamente elevado; ingerir fármacos em doses superiores; ingerir uma droga ilícita ou substância psicoativa com o intento de autoagressão; ingerir uma substância ou objeto não ingeríveis (lixívia, detergente, lâminas ou pregos).
Ideação Suicida: são pensamentos e cognições sobre acabar com a própria vida, que podem ser vistos como precursores de comportamentos autolesivos ou ato suicida (desejos e/ou plano para cometer o suicídio, sem que haja inevitavelmente passagem ao ato).
Tentativa de Suicídio: ato levado a cabo por uma pessoa que visa a sua morte, mas que, por razões diversas, resulta fracassado.
Suicídio Consumado: morte provocada por um ato levado a cabo, pela pessoa, com intenção de pôr fim à vida, incluindo a intencionalidade de natureza psicopatológica.
Ato Suicida: é uma tentativa(s) de suicídio e o suicídio consumado.
2 Em 2016, a IASP, lançou uma “fita universal de consciencialização sobre a Prevenção do suicídio”, com o desígnio de se tornar reconhecida a nível mundial! Foram destacadas as cores amarelo e laranja, por forma a indicar a luz emanada por uma vela, que vai de encontro à campanha “Acenda uma vela às 20h” locais, de cada país.
3 A pandemia por Covid-19 contribuiu para elevar a sensação de isolamento e vulnerabilidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental (2023) – “Campanha Nacional
da Prevenção do suicídio” [Em linha] [Consultado 10 agosto 2023] Disponível em: https://prevenirsuicidio.pt/quais-sao-os-sinais-de-alarme-para-suicidio/;
DGS (2017)- “Plano Nacional de Prevenção do Suicídio” [Em linha] [Consultado 8 agosto 2023] Disponível em: https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/plano-nacional-de-prevencao-do-suicido-20132017-pdf.aspx;
OMS (2023) – Depréssion[Em linha] [Consultado 10 agosto 2023] Disponível em: https://www.who.int/fr/news-room/fact-sheets/detail/depression;
OMS (2023) – Suicide, principaux faits [Em linha] [Consultado 10 agosto 2023] Disponível em: https://www.who.int/fr/news-room/fact-sheets/detail/suicide;
Valadas, M. T. et al (2021) – “PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: MANUAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE”, novembro de 2021, ISBN 978-989-33-2890-3 [Em linha] [Consultado 10 agosto 2023] Disponível em: https://prevenirsuicidio.pt/manual-para-profissionais-de-saude/;
Sofia de Faria Oliveira
Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica
Gabinete de Humanização do ACeS Cávado II – Gerês/Cabreira