Segundo a Classificação Internacional da Prática de Enfermagem a Adesão é entendida como “ Ação auto-iniciada para promoção de bem-estar, recuperação e reabilitação (…) ” (OE, p.38), sendo que Adesão ao Regime Terapêutico é descrita como adesão (OE, p.121).
A adesão ao regime terapêutico é um processo complexo, multidimensional e multifatorial.
A Organização Mundial de Saúde (2003) identificou 5 fatores relacionados com a adesão terapêutica: fatores sociais, económicos e culturais; fatores relacionados com os profissionais e os serviços de saúde; fatores relacionados com a doença e comorbilidades; fatores relacionados com a terapêutica prescrita e fatores relacionados com características individuais dos utentes. Destes fatores a motivação para o tratamento é considerada um dos atributos mais importantes, assim como a concordância do utente face às recomendações emanadas pela equipa de saúde.
Adicionalmente, estudos demonstram que uma comunicação efetiva (empática/terapêutica/escuta ativa) entre o utente e a equipa de saúde é basilar na adesão ao regime terapêutico (WHO, 2003, p.4). A adesão está também relacionada com a forma como o utente avalia a sua necessidade em cumprir um esquema terapêutico, e ao mesmo tempo, as suas preocupações face aos efeitos adversos desse mesmo esquema terapêutico.
A não adesão ao regime terapêutico é uma realidade. Em países desenvolvidos, estudos demonstram que cerca de 50% da população tem uma adesão ineficaz ao regime terapêutico potenciado pela falta de equidade no acesso e escassez dos serviços de saúde.
“In developed countries, adherence to long-term therapies in the general population is around 50% and is much lower in developing countries. (WHO, 2003, p.7).
Em Portugal, um estudo de Cabral e Silva (2010) evidenciou que cerca de 50% da população portuguesa tem má adesão ao regime terapêutico (regime medicamentoso) tendo sido referido o esquecimento como principal causa.
Fatores como os efeitos secundários, baixos recursos económicos e o sentir-se melhor também são referidos nesse estudo. Contudo, o regime terapêutico vai para além da medicação, envolve comportamentos e estilos de vida que são passíveis de serem modificados (WHO, 2003), com estratégias efetivas de capacitação e motivação do utente/cuidador para que com know how possam participar de forma esclarecida nas decisões que lhe dizem respeito, sendo deste modo considerados como parte integrante da equipa de saúde, numa visão transdisciplinar.
Face ao exposto urge uma mudança de paradigma que equacione efetivamente o utente/cuidador no centro dos cuidados e por isso com poder de decisão. Assim sendo, a equipa de saúde é a chave para o sucesso desta relação na capacitação do utente/cuidador para a tomada de decisão “empoderada”. É papel da equipa de saúde identificar mitos, receios e desmistificar as crenças erróneas que influenciam a adesão ao regime terapêutico. Desconstruir e reconstruir no sentido de uma maior literacia em saúde para uma participação informada e esclarecida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CABRAL, Manuel Villaverde & SILVA, Pedro Alcântara (2010). A adesão à terapêutica em Portugal: atitudes e comportamentos da população portuguesa perante as prescrições médicas. Lisboa: APIFARMA.
WORL HEALTH ORGANIZATION (2003). Adherence to long-term therapies: Evidence for Action. Acedido em 24 de março de 2023 em https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42682/9241545992.pdf?sequence=1&isAllowed=y
ORDEM DOS ENFERMEIROS (2011). CIPE versão 2. Acedido em 24 de março de 2023 em https://www.ordemenfermeiros.pt/media/27837/ordem-enfermeiros-cipe.pdf
Autora: Fátima Imperadeiro