O abuso sexual infantil, de acordo com o Centers of Diasease Control and Prevention (CDC, 2022) constitui um problema significativo de saúde pública, gerando uma experiência adversa na infância.

Vivenciar um abuso sexual infantil pode afetar a forma como uma pessoa pensa, age e sente ao longo da vida. Tal facto, pode resultar em consequências físicas, mentais e comportamentais de curto e longo prazo, nomeadamente atraso no desenvolvimento, distúrbios alimentares, raiva, agressão, ansiedade, medo, baixa autoestima, depressão, comportamento de isolamento social, entre outros.

De acordo com o Council of Europe (2022), uma em cada cinco crianças é vítima de violência ou abuso sexual.

Encontrando-se os enfermeiros das Unidades de Cuidados na Comunidade, mais concretamente os enfermeiros que operacionalizam todo o Programa Nacional de Saúde Escolar, no contexto habitual das crianças e jovens, estes adquirem um papel privilegiado, de proximidade e de destaque no que concerne à prevenção do abuso sexual infantil.

A equipa de saúde escolar, no âmbito da sua intervenção ativa, próxima e de parceria com as crianças, jovens, pais e equipa educativa, estabelece ao longo do tempo, uma relação de confiança com estes intervenientes, desempenhado, tal como descreve National Association of School Nurses (2018), um papel vital na segurança, saúde e bem-estar das crianças.

Assim, e tomando como premissa os enfermeiros enquanto educadores para a saúde, e promotores de desenvolvimento infantil, torna-se premente incluir no âmbito das suas intervenções em contexto escolar, estratégias que capacitem as crianças para que se possam defender e eventuais abusadores. E esta intervenção, poderá e deverá começar a ser trabalhada logo aos 3 anos de idade. Nestas faixas etárias, as crianças não têm tabus, e consequentemente torna-se muito mais simples a abordagem da temática. É fundamental que as nossas crianças percebam que o corpo é delas, que têm o direito a dizer “não”, que existe “contacto físico bom” e “contacto físico mau”, “segredos bons” e “segredos maus”, e que existem pessoas “da sua confiança” (mãe, pai, professor) às quais devem recorrer quando não são respeitadas ou quando estão presentes segredos maus. Igualmente, pais e equipa educativa deverão ser sensibilizadas sobre a urgência e pertinência da temática. E foi neste âmbito que foi criada a história do “Kiko e a Mão”, cuja premissa major, consiste na regra “Aqui ninguém toca”, da autoria do Council of Europe, que aborda uma história simples, que permite de uma forma lúdica ensinar e explicar às crianças, onde podem e onde não podem ser tocadas, como devem reagir e onde procurar ajuda. Na mesma linha de pensamento foi criado um guião para os pais onde lhes são facultadas ferramentas para que possam trabalhar a temática junto das crianças. Ferramentas de fácil utilização e acesso.

Em suma, pode-se concluir a importância da intervenção para a temática exposta em contexto escolar. Intervir com os pais, com as crianças e com a equipa educativa, permite capacitar as nossas crianças em prol da sua segurança, bem-estar e fomentar o seu crescimento e desenvolvimento.

Catarina Pinto Cruz

Enfermeira

Pós-Graduada em Enfermagem de Cuidados Paliativos

Estudante da Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica

Referências Bibliográficas

Centers of Diasease Control and Prevention (2022). Fast Facts: Preventing Child Sexual Abuse.

https://www.cdc.gov/violenceprevention/childsexualabuse/fastfact.html

Council of Europe (2022). The Underwear Rule.

https://www.coe.int/es/web/children/underwear-rule

National Association of School Nurses. (2018). Prevention and intervention of child maltreatment —The role of the school nurse (position statement).

https://www.nasn.org/ advocacy/professional-practice-documents/ position-statements/ps-child-maltreatment