Já muito se falou e escreveu sobre a nossa (profissionais de saúde) capacidade de comunicar com o doente, de promover a educação para a saúde e também sobre a capacidade da pessoa para concretizar o que lhe é proposto.
Falamos de Literacia em Saúde.
A literacia em saúde remete para as competências e os conhecimentos dos indivíduos necessários para acederem, compreenderem, avaliarem e utilizarem informação sobre saúde, que lhes permita tomar decisões sobre cuidados de saúde, prevenção da doença e modos de promoção de uma vida saudável.
Uma baixa Literacia em Saúde pode dar origem, por exemplo, a um maior número de internamentos e a uma utilização mais frequente de serviços de urgência e, também, a uma menor prevalência de atitudes individuais e familiares preventivas no campo da saúde. Ou seja, a uma menor qualidade de vida. (In: Literacia em Saúde em Portugal – 2015 |Fundação Calouste Gulbenkian.
Em Portugal, os estudos revelaram que existe um elevado número de pessoas com baixos níveis de literacia, particularmente os idosos, com doenças crónicas, com baixos níveis de escolaridade e baixos rendimentos (DGS, 2018). Existe uma forte evidência de que a Literacia em Saúde contribui não só para promoção da saúde e prevenção da doença, mas também para a eficácia e eficiência dos serviços de saúde.
Baixos níveis de Literacia em Saúde estão relacionados com um maior número de internamentos e com uma utilização mais frequente dos serviços de urgência, bem como uma menor prevalência de atitudes individuais e familiares preventivas no campo da saúde, levando a uma diminuição da qualidade de vida.
Assim, impõe-se aos Profissionais de Saúde e particularmente aos Enfermeiros, enquanto agentes determinantes na promoção da Literacia em Saúde o desenvolvimento de iniciativas promotoras do empoderamento dos cidadãos.
A promoção da Literacia em Saúde é determinante para que o Cidadão esteja habilitado a tomar decisões adequadas em saúde, promovendo assim uma utilização mais eficiente e racional dos recursos do Sistema de Saúde que contribuirão indubitavelmente para a sua sustentabilidade. Mas, o impacto mais significativo da Literacia em Saúde é a redução do risco da utilização abusiva e por vezes adversa das tecnologias da saúde da qual o medicamento é exemplo.
A utilização racional das novas tecnologias em saúde potenciará um salto qualitativo na relação dos Doentes e Profissionais com o Sistema de Saúde tornando-o mais eficaz e seguro.
As Organizações de Saúde ao redesenhar os seus processos de prestação de cuidados, estão a promover uma verdadeira relação de continuidade, os direitos e valores dos Doentes, a partilha de conhecimento, a redefinição de processos baseados na segurança, a transparência, a redução do desperdício e a cooperação dos profissionais.
A utilização de dados numéricos, gráficos e figuras, meios audiovisuais e ferramentas interativas demonstrou facilitar a transmissão de informação entre profissionais de saúde e doentes, possibilitando uma melhor compreensão e adesão terapêutica. Estes efeitos tornam-se mais relevantes em grupos populacionais com maiores dificuldades de comunicação e literacia, como idosos e migrantes.
Para mudar comportamentos torna-se necessário perceber o que as pessoas compreendem, desejam e a forma como acedem e usam os serviços. A tomada de decisão não pode ser baseada apenas em fatores racionais, deve também conter fatores emocionais (Damásio, 2015).
Para além do “saber”, as pessoas devem saber “fazer”, isto é, ter autoeficácia (Bandura, 1977).
As pessoas mudam quando se convencem que a mudança é melhor do que não mudar e “dão importância ao assunto”.
O ser humano tem uma limitação natural para absorver a informação e recordar. A repetição e a forma como comunicamos é determinante. E a literacia em saúde tem a ver com isto tudo.
Damásio (2020) realça a importância dos afetos na gestão da relação com as pessoas e dentro das organizações. Segundo Damásio (2020, online), existe um grande preconceito típico: “damos um enorme valor àquilo que é intelecto e desvalorizamos tudo o que tem a ver com os afetos e sentimentos. O que conta não é apenas a capacidade cognitiva. Hoje, “as pessoas estão com carência afetiva”.
Uma atenção cuidada sobre a relação terapêutica e sobre o Doente, com comunicação assertiva, clara e positiva traz melhores resultados de saúde (Almeida, 2019, 2020) e permite desenvolver melhores estratégias e políticas de saúde destinadas a melhorar os resultados de saúde centrados no Doente (Olaisen et al, 2020).
“Temos tanto para aprender uns com os outros…”
Enfermeira Gestora Manuela Azevedo
ACeS Cávado II – Gerês/Cabreira